Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília
Cerca de 60 mil pessoas com mais de 15 anos não sabem ler e escrever. Iniciativas sociais tentam suavizar dados.

Ensino fundamental completo. Essa formação básica não está no currículo de mais de 20% da população do DF acima dos 14 anos, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com projetos sociais e programas de inserção educacional, 2,5% da população ou mais de 60 mil acima dos 15 anos, não sabe ler ou escrever. Entre essas pessoas, por volta de 37 mil idosos encontram-se na mesma situação. Os dados comparam com a realidade encontrada em 2016.

O responsável pela pesquisa, Pedro Franco, da Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações (SDI-DF) do IBGE, acredita que o nível de produção no País diminui com o abandono dos estudos. “É terrível, porque além de prejudicar o próprio estudante, prejudica a produtividade no Brasil, que é pouco qualificada. É uma pena, porque as empresas não contratam essas pessoas”, lamenta o supervisor.

Ainda na visão de Pedro, as pessoas quererem trabalhar mas não possuem oportunidade, porque a partir dos 18 anos deveriam estar na faculdade e passar numa universidade pública. “O número de estudantes dados como negros e pardos, mesmo, caiu bastante, de 42,4% para 35,8% em comparação com o ano passado. Já no caso de pessoas consideradas brancas, foi de 50,4% para 56,3%. Isso acontece porque a população carente acaba tendo que desembolsar dinheiro para faculdades particulares”, complementa.

Na visão do gerente de Políticas Educacionais para a Educação Infantil e Ensino Fundamental da Subsecretaria de Educação Básica (SUBEB), Radson Lima Vilaverde, 31 anos, os estudantes integrados ao Programa para Avanço das Aprendizagens Escolares (PAAE) possuem algumas causas determinantes para o abandono da escola. “O principal fator é oportunidade no mercado de trabalho. Também como, cuidar da família, gravidez na adolescência, desinteresse do próprio estudante e morar longe da escola”, explica o gerente.

O programa é vigente desde 2016, com cinco mil alunos integrados. Caso um estudante largar o ensino pelo Programa, o direcionamento é outro. “Quando o estudante abandona os estudos, ele estando além da idade, não volta para um centro regular de ensino, mas sim para a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, relata. Mas apenas a pessoa que tem mais de 16 anos e cursou até o 5º ano do Ensino Fundamental pode participar do EJA.

Auxílio necessário

O Alfabetização Cidadã é outra forma de levar conhecimento para quem precisa. Criado há 25 anos pela Universidade Católica de Brasília (UCB), é um projeto social filantrópico, que atende pessoas com idade acima de dezoito anos sem alfabetização, com vulnerabilidade social, sem apoio para iniciar ou dar continuidade à vida acadêmica. A coordenadora do projeto, Carla Cristie de Franca Silva, 40 anos, se orgulha ao dizer que o projeto social ajuda cerca de 250 pessoas no DF a retomarem a vida convencional.

“A gente parte do sonho de cada um. Uma senhora, por exemplo, queria aprender a ler a bíblia, e conseguiu por meio do nosso curso. Outro senhor que era taxista, se formou pelo EJA, e voltou para a faculdade. Por sinal, ano passado, ele se formou em letras aqui”, comemora. O curso não tem uma grade curricular, mas atende a necessidade de cada caso.

Além da universidade, as cidades do Areal, Samambaia Sul e Norte, Riacho Fundo II, Varjão, Recanto das Emas e Brazlândia, também participam da iniciativa, que completa esse ano 25 anos. “A pessoa fica à margem da sociedade, distante de tudo que a vida disponibiliza. Esse curso é uma forma de contribuir minimamente com esse público, mesmo nós não sendo parte do Governo”, finaliza.

Acima da média nacional

Dos quase 280 mil estudantes matriculados no ensino fundamental, em torno de 20% tiveram defasagem. Sendo assim, mais de 60 mil estudantes foram extraídos do centro escolar, de acordo com a . Após queda de 0,9%, em comparação com 2016, teve média de 29,4%, maior que os 27,3% registrados pela média nacional, segundo o IBGE.

O tempo de estudo de pessoas com mais de 60 anos de idade é pouco. São 8,7 anos de ensino. Se comparados a pessoas entre 25 e 39 anos, que ficaram cerca de 12,6 anos indo a escola, a diferença é preocupante.

Pedro Marra
Especial para o Jornal de Brasília