Na dura rotina do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os profissionais de saúde do Distrito Federal enfrentam, com frequência, situações de risco causadas por reações humanas fora de controle. Muitas delas envolvem agressões, convulsões e surtos de pacientes, às vezes com danos físicos graves.
Para assegurar a integridade das partes, principalmente dos usuários do serviço, a Secretaria de Saúde está promovendo cursos de defesa pessoal para os profissionais da área, mediante parceria com a Diretoria de Capacitação, da Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude.
Entre os atendimentos que mais causam estresse estão, por exemplo, acidentes traumáticos com vítimas, partos de alto risco, ocorrências de maus-tratos, transtornos psiquiátricos e casos de dependentes químicos.
Em muitos deles é alta a carga de imprevisibilidade. “Nesse imenso leque de trabalho, o risco de incidentes entre os profissionais de saúde e os usuários é alto e frequente”, constata o coordenador do Samu, Tiago Vaz.
Neste ano serão treinadas duas turmas com 25 participantes cada uma, na Escola de Governo do DF, incluídas aulas teóricas e práticas. A primeira etapa começou na segunda-feira (25) e termina nesta sexta (29). A outra está prevista para o início de dezembro.
Na parte teórica são apresentados os conceitos de defesa, agressão e postura, com palestras e vídeos de situações reais vivenciadas pelos agentes públicos, conforme explica Israel Carrara, instrutor do curso.
No módulo prático, os alunos aprendem técnicas de contenção, imobilização, rolagem e defesa contra socos, chutes, enforcamento e estrangulamento. “O objetivo é sempre proteger a integridade física do eventual agressor”, destaca Carrara.
Segundo o instrutor, uma imobilização feita de forma inadequada pode causar lesões. “Por outro lado, como o profissional de saúde não porta qualquer tipo de arma, ele também se torna vulnerável”, pondera.
O técnico em enfermagem José Júnior, há 13 anos no Samu, acredita que o curso também atende a uma necessidade dos agentes. “Especialmente em relação aos transtornos psiquiátricos e aos casos de dependência química, nos quais as pessoas estão vulneráveis e às vezes fora da sua consciência”, exemplifica.
Ele relata já ter presenciado situações extremas e relembra casos de colegas vítimas até de esfaqueamento. “Em outros momentos, tentamos conduzir situações limite pelo convencimento, mas, quando o diálogo não surte mais efeito, muitas vezes é preciso fazer a contenção mecânica”, observa Júnior.
O técnico em enfermagem alerta que, se o profissional não souber aplicar corretamente o procedimento, “podem acontecer traumatismos desnecessários”. Mesmo sendo faixa preta em tae kwon do, ele diz estar aprendendo novas técnicas na capacitação e a gerenciar melhor os atendimentos.
“Arte marcial é uma coisa, defesa pessoal é outra, com objetivos distintos. No curso aprendemos a cair, nos defender de chutes e socos e, principalmente, garantir a segurança de todos os envolvidos na situação”, enfatiza.
Para ele, na vontade de ajudar, mas sem preparo, a equipe corre o risco de entrar erradamente no ambiente e ser agredida.
Agência Brasília
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