As profundas cicatrizes espalhadas pelo corpo fazem marejar os olhos de Danielle Cristina Kalkmann. As marcas nos braços, nas costas e nas pernas inevitavelmente a levam para 6 de junho de 2015. No dia, a servidora pública de 29 anos jantava com o marido em um restaurante da 306 Norte, quando um motorista bêbado perdeu o controle do carro e invadiu o estabelecimento em alta velocidade. Danielle ficou esmagada na parte de baixo do veículo, sofreu diversas queimaduras e fraturou o quadril.

Abalada emocionalmente e com uma filha recém-nascida em casa, ela sabia que precisava de ajuda psicológica para superar o trauma. “Sentia raiva, revolta e queria encontrar o homem que provocou tudo isso”, conta. Um telefonema após o acidente foi determinante. Do outro lado da linha, uma psicóloga da Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), da Secretaria de Justiça e Cidadania, oferecia ajuda. Danielle relutou no início, mas aceitou conhecer aquele programa do governo de Brasília sobre o qual até então ela nunca tinha ouvido falar.

Na primeira sessão terapêutica, Danielle percebeu que o Pró-Vítima seria uma arma eficaz para recolocar sua vida emocional nos trilhos. Após quatro meses de acompanhamento no posto da 114 Sul, na estação do metrô, ela resume os resultados. “Não teria conseguido um tratamento tão eficaz em outro lugar. Eles resgataram minha autoestima, me ajudaram a lidar com a revolta e me convenceram de que não adianta alimentar ódio pelo culpado. Hoje, só quero que ele pague pelo que fez”, explica a servidora pública, que move uma ação judicial contra o motorista.

O relato de Danielle em relação aos efeitos positivos do Pró-Vítima é semelhante ao de diversas outras pessoas que recorreram ao programa. De 1º de janeiro a 16 de dezembro de 2016, foram 2.157 atendimentos, média de quase sete por dia. Criado em 2009, o Pró-Vítima surgiu para levar apoio a pessoas abaladas psicologicamente após sofrerem algum tipo de trauma.

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