O local em que a estudante de direito Nara Farias Preto, de 20 anos, morreu após se submeter a uma sessão de bronzeamento artificial recebeu a visita de fiscais da Vigilância Sanitária na manhã desta quinta-feira (15). A clínica Belo Bronze, funcionava no mesmo endereço de uma pousada, na 705 Sul. O CNPJ da empresa não está cadastrado no sistema da Receita, o que indicaria o funcionamento de forma clandestina.

A estudante deu entrada em estado gravíssimo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Daher, no Lago Sul, depois sofrer duas paradas cardíacas. A jovem sentiu-se mal após se submeter a um procedimento de bronzeamento artificial na Clínica Belo Bronze, na 705 Sul, no último sábado (10).


A estudante foi enterrada na tarde desta quinta-feira (15) na cidade de Mara Rosa, em Goiás, local em que nasceu.

“Verificamos que existiam vários ambientes insalubres utilizados como dormitórios, caracterizando o local como uma pousada”, afirmou o Chefe de Núcleo de Inspeção de Saúde de Brasília Sul, Márcio Cândido de Jesus.

No local, os fiscais encontraram entulhos e muita sujeira. Eles apreenderam alguns materiais encontrados no espaço, entre eles quatro macas enferrujadas e com avarias, além de uma bomba de desinsetização utilizada para a aplicação de veneno contra ratos e baratas. Esta última, transferida para a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para investigações.

“Retiramos a bomba do local pois o material não pode ficar alojado em residência e também porque não sabemos qual o produto que estava dentro dela. Isso só a polícia poderá identificar”, ressaltou Márcio.

A equipe de reportagem do JBr. esteve no local e conversou com uma mulher que estava dentro da casa, que se identificou como Bruna. Ela disse que trabalha como faxineira no local e confirmou que, lá, funciona uma pensão, mas não se pronunciou sobre a clínica. “Cheguei aqui no início da semana. Sei de algumas pessoas que moram por aqui. Está sempre cheio, mas não sei nada dessa clínica”, disse a mulher.

Estabelecimento fechado

O local, composto por dois andares e um terraço, lugar onde supostamente eram feitos os procedimentos estéticos, foi fechado nesta manhã. “As condições de funcionamento eram totalmente inapropriadas para uma pousada. Além do mal cheiro, vários colchões rasgados e sujos estavam espalhados pelo chão. A falta de ventilação e iluminação também é um problema. Uma cozinha utilizada de forma coletiva também estava bastante degradada’, ressaltou Márcio.

Sobre o procedimento estético realizado no local, ele sugeriu: “Acreditamos que as moças se dirigiam à parte superior e abriam as macas para se deitarem, expostas ao sol, mediante o uso do produto para o bronzeamento (não localizado na residência). Mas não podemos afirmar, pois, no endereço, ninguém sabia o nome e nem quem era a pessoa responsável”, disse o chefe de Núcleo de Inspeção.

A notificação foi emitida no nome da locatária do imóvel, que, apesar de não estar presente no momento em que ocorreu a fiscalização, teve o nome e CPF cedidos pela proprietária do imóvel, que alegou ter alugado a residência sem saber que a mesma seria utilizada para fins comerciais. “É possível que a locatária tenha sublocado o imóvel para uma terceira pessoa exercer a atividade estética. Tudo isso será investigado”, relatou Márcio.

A partir de hoje, todos os ocupantes do estabelecimento têm o prazo de dez dias para liberação do imóvel. A Vigilância Sanitária ressalta que fará o monitoramento do local para saber se a ordem foi ou não cumprida. “O prazo foi solicitado pelas pessoa que habitam no local. Mas na próxima semana, quando completar o prazo, retornaremos para saber se a decisão foi cumprida. Caso não seja, ela pode ser multada em R$ 2 mil a R$ 2 milhões”, frisa Márcio Cândido.

Outros locais

Em 2011, a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) fechou diversas pousadas que operavam de forma irregular, também na Asa Sul. Na época, os agentes recolheram os móveis dos estabelecimentos. Fiscais da Vigilância Sanitária foram aos locais e encontraram ambientes impróprios para garantir a higiene e conforto dos clientes.

“Tivemos denúncias na W3 de casos de hospedagens. Fomos aos locais e interditamos o que não estava de acordo com as exigências mínimas de higiene”, lembrou Márcio Cândido.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso da jovem que morreu após realizar o procedimento estético foi encaminhado, na tarde dessa quarta-feira (14), para a 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) e está sob a investigação do delegado-chefe da unidade, Luiz Alexandre Gratão. Ainda segundo o documento, até o momento, não há conclusões periciais e os laudos devem ser concluídos até 30 dias.
Josemar Gonçalves

Ana Lúcia Ferreira
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