Procedimento consistiu na retirada de um feto “parasita” que estava no organismo da criança; paciente passa bem e já recebeu alta.
Agência Brasília
A equipe que operou a bebê: um caso a cada 300 mil nascimentos. | Foto: Johnny Braga/Agência Saúde
Um fenômeno embrionário extremamente raro levou uma menina de seis semanas de idade ao Centro Cirúrgico do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Chamado cientificamente de fetus in fetu (FIF), o problema ocorre em um a cada 500 mil nascimentos.
A condição pode acontecer em gravidez de gêmeos e se dá da seguinte forma: um dos fetos engloba o outro para sobreviver e passa a se alimentar do sangue e da energia do par como um parasita, porém não possui órgãos essenciais desenvolvidos para evoluir – o que o impede de sobreviver fora do organismo hospedeiro.
Sem saber que estava grávida de gêmeos, Micaela Alves da Silva, 25 anos, teve um parto tranquilo e deu à luz Evelyn. Poucas semanas depois, percebeu que a filha chorava bastante, vomitava um líquido verde e estava com semiobstrução intestinal. Ela levou a bebê para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), onde fez uma radiografia e uma tomografia de abdômen. Ao receber o diagnóstico, veio o susto com a informação sobre o ocorrido. “Foi um choque, nunca tinha visto isso na minha vida”, relata a mãe.
A cirurgia
Os sintomas, nesses casos, são principalmente inchaço e dor no local. Inicialmente, os exames demonstraram a possibilidade de um tumor, mas com as características de ossificação dentro da massa, foi levantada a possibilidade diagnóstica de FIF. Por se tratar de um caso complexo, a equipe do HRSM encaminhou a criança para o Hmib, que é o hospital referência em cirurgia pediátrica. Chegando lá, a sala de cirurgia foi preparada e a bebê operada. Uma equipe formada por quatro cirurgiões, um anestesista, enfermeiros e técnicos de enfermagem, fez a retirada do feto parasita. O procedimento durou cerca de duas horas e transcorreu com tranquilidade. Evelyn já está em casa.
De acordo com o cirurgião pediátrico Acimar Cunha Júnior, Referência Técnica Assistencial da Unidade de Clínicas Cirúrgicas Pediátricas do Hmib, em casos assim, o gêmeo parasita não tem um corpo humano definido. No caso da bebê operada, o feto se encontrava próximo ao intestino delgado, e foi retirado e analisado pela área de patologia da unidade, que identificou o baço bem definido, fígado e articulações.
“É um caso raro. Tivemos apenas três casos assim no Distrito Federal”, relata Acimar. O médico explica que, no mundo, há conhecimento de pouco mais de cem episódios publicados na literatura médica. Os dois outros casos relatados no DF foram diagnosticados no próprio Hmib e no Hospital Universitário de Brasília. Os primeiros casos descritos de fetus in fetu, no mundo, ocorreram em adolescentes.
* Com informações da Secretaria de Saúde
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