Equipe da Sema visita Instalação de Recuperação de Resíduos e vê de perto o trabalho de catadores que dependem da coleta seletiva.
Agência Brasília *
Poliana Feitosa Teixeira, da Cooperativa de Trabalho de Reciclagem Ambiental: “Nós fazemos o meio ambiente melhorar; o que seria dele sem os catadores?” | Fotos: Sema / Divulgação
Quando você muda, o mundo muda. A frase parece escrita para Poliana Feitosa Teixeira, de 31 anos. A catadora de materiais recicláveis se orgulha do trabalho que faz. Com os rendimentos e mais o salário que o marido ganha com “bicos” de pedreiro, consegue manter a família. Cuida da casa, em Santa Luzia – “subúrbio da Vila Estrutural”, diz – e alimenta os filhos Gabriel e Davi, de 11 e 5 anos, respectivamente. Para quem acha que ganhar a vida com o lixo é desumano, ela avisa: “O desumano é a sociedade não ser informada da importância da separação do resíduo que produz”.
O cuidado de cada um em separar orgânicos e recicláveis em casa ou no trabalho se reflete no ganha-pão de Poliana, que trabalha na Cooperativa de Trabalho de Reciclagem Ambiental (Construir). A instituição, assim como a Coorace (Cooperativa de Reciclagem Ambiental da Cidade Estrutural) e a Cortrap (Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção), integra a estrutura da Instalação de Recuperação de Resíduos (IRR), mantida pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Essas três cooperativas – que, no total, reúnem 180 pessoas – têm contrato de prestação de serviço assinado com o SLU. Por meio desse instrumento, os cooperados ganham uma renda fixa maior do que o valor equivalente ao que vendem após o trabalho de separação de materiais.
Após conhecer a história de Poliana, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) enviou ao “caminho do lixo” uma equipe da qual fizeram parte, entre outros servidores, a comissão gestora da coleta seletiva solidária. Responsável pela execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos no DF, a Sema, que realizou a visita na quinta-feira (2), também coordena trabalhos de mobilização, sensibilização e orientação para a coleta seletiva no DF.
Cooperativismo
Poliana estuda à noite e está prestes a terminar o ensino médio. Com a oportunidade de atuar na IRR, ela pode cumprir expediente, usar equipamentos de segurança e trabalhar em sistema de cooperativismo. O pagamento varia de acordo com a quantidade separada. O problema é que a coleta, observa a cooperanda, “não está vindo como antes”.
Isso significa que é preciso investir na conscientização sobre a importância de consumo e descarte conscientes. “Para que a IRR tenha eficiência, é necessário que a população faça o descarte adequado e disponibilize seus resíduos recicláveis de acordo com os dias e horários definidos pelo SLU”, orienta o titular da Subsecretaria de Gestão das Águas e Resíduos Sólidos (Sugars) da Sema, Jair Tannús.
O caminho do lixo
A IRR recebe diariamente cerca de 32 toneladas de resíduos, carga transportada por sete ou, às vezes, oito caminhões. Ao chegar lá, os veículos despejam o conteúdo em um silo onde os sacos maiores são rasgados por trabalhadores para que seu conteúdo passe de forma mais fácil pelas esteiras e, de lá, chegue à equipe responsável pela separação.
Plástico, vidro, papel, metal. Quando a coleta seletiva não é feita, chegam também os rejeitos. Além de tomar o tempo dos cooperados, esse tipo de material atrai ratos, moscas e coloca em risco a vida dos trabalhadores – que Poliana, fundamentada na prática diária de trabalho, considera agentes ambientais.
Da esteira, o lixo é lançado em grandes sacolas, chamadas de bags, que agrupam os materiais já prontos para a destinação final. O rejeito é levado para o Aterro Sanitário de Brasília, projetado para comportar 8,13 milhões de toneladas de rejeitos (materiais não reutilizáveis) e, com isso, ter vida útil de aproximadamente 13 anos.
O desumano é a sociedade não ser informada da importância da separação do resíduo que produzPoliana Feitosa Teixeira, catadora e separadora de material reciclável
Lixão
O fechamento, em 2018, do conhecido Lixão da Estrutural – maior da América Latina e segundo maior do mundo –, local de onde Poliana tirava o sustento antes da criação da IRR, promoveu mudanças no cotidiano dos catadores. O resultado é que suas organizações podem firmar contratos de prestação de serviço com o Governo do Distrito Federal (GDF), a exemplo do que acontece no IRR. Assim, os profissionais dessa área são contratados para fazer coleta seletiva e triagem de resíduos sólidos. Hoje, 29 cooperativas funcionam sob esse sistema.
“Nós fazemos o meio ambiente melhorar; o que seria dele sem os catadores?”, atenta Poliana. “O problema é o descarte malfeito. E quando nos furamos com agulhas, correndo o risco de contaminação?”
Experiência
De acordo com a assessora técnica da Sugars, Amanda Meireles, sensibilizar toda a população do DF para fazer a separação adequada do lixo é um grande desafio da atualidade. “É preciso que os resíduos recicláveis cheguem com boa qualidade às Instalações de Recuperação de Resíduos e possam ser transformados em renda para os catadores de materiais recicláveis, além de gerar maior aumento da vida útil do Aterro Sanitário de Brasília e a preservação do meio ambiente”, explica.
Conhecer de perto o trabalho do IRR chamou a atenção da técnica da Subsecretaria de Gestão Ambiental e Territorial (Sugat) Leides Meireles. Ela disse que já separa os resíduos em sua casa, situada em um condomínio no qual o lixo também é selecionado e acondicionado em contêineres apropriados. “Mas vou sair daqui contando a todo mundo o que vi e falando sobre a importância da coleta seletiva para quem trabalha aqui”, prometeu.
Serviço
Visitas a alguma unidade da Instalação de Recuperação de Resíduos devem ser solicitadas por e-mail enviado ao SLU pelo seguinte endereço: ambiental.slu@gmail.com.
* Com informações da Sema
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