As gêmeas com seus pais, Rodrigo e Camilla, e com a equipe médica do HCB: sucesso na operação (Foto Breno Esaki)

Meninas, que nasceram unidas pelo crânio, passaram 36 dias internadas na unidade de saúde e foram submetidas a uma cirurgia delicada, felizmente bem-sucedida

Depois de 36 dias internadas para se recuperarem de uma cirurgia de separação inédita no Distrito Federal, as gêmeas siamesas Lis e Mel receberam alta médica do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB), nesta segunda-feira (3).

“O grande dia chegou. É só felicidade, agora”, comemorou a mãe das pequenas, Camilla Vieira. Lis e Mel, que celebraram o aniversário de um ano no sábado (1º), ganharam, como o melhor dos presentes, a volta para o lar. “Só o fato de poder ir para casa, agora, é maravilhoso”, ressaltou a mãe.

Coordenador da equipe cirúrgica do hospital, o neurocirurgião Benício Oton Lima informou que a alta das meninas é resultado de todo um trabalho conjunto entre a equipe multiprofissional da rede pública de saúde do DF, o planejamento para os imprevistos que poderiam ocorrer na operação e o suporte de especialistas renomados de outros locais – um deles vindo de Nova York (Estados Unidos).

“A alegria final foi quando vimos as duas rindo na enfermaria”, contou o médico. “Quando uma criança sorri, quer dizer que está salva, e os médicos ficam mais felizes. Agora, a fase final é ir para casa, apesar de não acabar o tratamento ainda, porque vão continuar o acompanhamento conosco e com o pessoal da cirurgia plástica do Hran [Hospital Regional da Asa Norte]. Mas os problemas mais graves passaram”.

De acordo com a secretária-adjunta de Assistência à Saúde, Renata Rainha, o acompanhamento, que começou quando as meninas ainda estavam no útero da mãe, vai durar o tempo que for necessário, até que as crianças sejam avaliadas como em excelente estado de saúde.

Assim como Oton Lima, Renata destacou a participação da equipe na cirurgia bem-sucedida. “Esse trabalho só foi possível porque foi feito em rede, com muita dedicação dos profissionais do SUS”, reiterou. “Começou no Hmib [Hospital Materno Infantil de Brasília], com a parceria do Hran, do Hospital da Criança e parcerias internacionais, o que contribuiu para esse resultado maravilhoso”.

Histórico

As irmãs, que nasceram com as cabeças unidas, foram separadas em abril, aos dez meses de idade, em cirurgia que durou cerca de 20 horas e contou com mais de 50 profissionais – entre eles, cirurgiões plásticos do Hran. Esse foi o primeiro caso de separação de craniópagos (siameses ligados pelo crânio) no Distrito Federal e o terceiro no Brasil. Casos como o de Lis e Mel são raríssimos – ocorrem uma vez em cada 2,5 milhões de nascimentos.

A mãe das gêmeas afirmou que um dos momentos em que mais sentiu medo foi quando entregou suas filhas para fazerem o procedimento. “Enquanto nos falaram que tinha esperança [a cirurgia para separar as gêmeas ligadas pelo crânio], entregamos para Deus e para os profissionais”, comentou. “Esse também foi o meu maior medo”, completou o pai das irmãs, Rodrigo Aragão.

Somente um mês depois de passarem pela cirurgia que as separou e a poucos dias do aniversário de um ano, as gêmeas Lis e Mel se reuniram novamente. Lis recebeu alta da UTI do Hospital da Criança de Brasília em 27 de maio, sendo acompanhada pela equipe da Unidade de Internação do HCB. Sua irmã, Mel, foi transferida para a internação em 21 de maio.

Embora ainda necessitem de cuidados pós-operatórios, as duas irmãs não precisam permanecer o tempo todo no hospital. Segundo os médicos, tais procedimentos podem ser feitos na residência das meninas. A equipe médica também trabalha para que os bebês não tenham sequelas psíquicas ou neurológicas.

* Com informações da Secretaria de Saúde