Frederico era caminhoneiro antes de virar motorista de aplicativo. Idosos vem crescendo no mercado de trabalho.

Por G1 DF

Frederico começou a dirigir desde o final de 2017 — Foto: Acervo Pessoal

Quatro tomadas, wi-fi e até lixas de unha gratuitas, isso tudo dentro de um carro compartilhado. A combinação faz parte do serviço oferecido por Frederico Correia da Silva, de 66 anos, que há mais de um ano mudou de profissão: passou de caminhoneiro para motorista de aplicativo.

Se reinventar depois dos 60 anos é uma tendência no Distrito Federal e no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre do ano passado 46% da população ocupada com mais de 60 anos trabalhava por conta própria e 9,3% eram empreendedores.

No entanto, o número de motoristas acima de 60 anos no DF ainda é pequeno. De acordo com uma das empresas da modalidade, Uber, apenas 4% dos motoristas considerados mais engajados – que recebem mais elogios – estão na maioridade.

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No caso de Frederico, os anos e a experiência também trouxeram dicas de como lidar com as pessoas nos dias de hoje, que ele considera muito agitados. Segundo ele o respeito e a paciência somam pontos.

“Considero os passageiros como os meus patrões. E eu trato eles como eu gostaria de ser tratado, sempre com muito respeito.”

Atualmente, Frederico é casado e tem um filho e duas netas. Para ele, a família é uma das referências e bases para o bom serviço.

Frederico foi caminhoneiro por oito anos e ainda sente saudade da estrada — Foto: Acervo Pessoal

O motorista bom de ouvido

Entre as idas e vindas pela capital do país, Frederico disse que já viveu algumas situações de muita escuta. Certa vez, enquanto levava uma mulher para o hospital do coração, Frederico foi mais que um motorista.

Ele conta que a passageira estava muito nervosa e, então, começou a conversar com ela. Aos poucos, a mulher foi se acalmando. Na hora de deixar a passageira, Frederico desceu para abrir a porta e recebeu o pedido: “O senhor poderia me dar um abraço”.

Para o motorista, as pessoas precisam e querem ser mais escutadas.

“Temos que entender um pouco do nervosismo das pessoas. Muitas delas só querem que alguém as escute.”

Mesmo assim, o ex-caminhoneiro diz que não se considera um “psicólogo”. Segundo ele, o respeito é o caminho para tratar as pessoas, independentemente da situação em que os passageiros estejam.

Tomada instalada no carro para o ajudar passageiros durante o trajeto — Foto: Acervo Pessoal.

Espírito de empreendedor
O ex-caminhoneiro disse que quando entrou na mercado como motorista, já existiam muitas coisas para proporcionar a melhor experiência ao usuário, como água e balinhas. “Eu procurei fazer diferente, porque nessa hora temos que ser um empreendedor”, afirma Frederico.
“A gente tem que inovar.”

Para o sexagenário, as adaptações feitas no carro são “uma questão de atender bem o passageiro, porque a satisfação do usuário pode ser maior do que a do motorista”.

Referências

Entre as referências de Frederico, a mãe, Edna Travassos Correia, foi uma das influenciadoras na vida pessoal e profissional do motorista. Segundo ele, Edna criou oito filhos, mas a prioridade sempre foi a educação, além de não deixar faltar comida para a família.

“Minha mãe dizia:’ procure sempre fazer o melhor, seja o que for que você fizer’. Isso ficou gravado na mente.”

Além da mãe, a esposa de Frederico, Margarete Costa de Oliveira, também é um alicerce para o ex-caminhoneiro. Ele diz que a esposa foi fundamental na mudança de profissão e que muitos detalhes ela é quem pensa e coloca no carro, como as lixas de unhas e os lenços umedecidos.

Segundo ele, a visão feminina de Margarete ajudou bastante na qualificação do serviço. “A visão feminina em muitas coisas é bem maior. E até as passageiras elogiam ela pelo cuidado, como álcool em gel, as lixas, os lenços.”

Ideia de colocar lixas de unha incluso no serviço foi da esposa — Foto: Acervo Pessoal

Rotina e desafios

A rotina do motorista costuma começar logo cedo, por volta das 7h. Mas antes de entrar no carro, Frederico faz um ritual: ele faz uma oração pedindo a Deus pelos passageiros que irão entrar no carro e por um dia tranquilo.

No entanto, com um mês na nova profissão, Frederico teve o carro roubado. A esposa também tinha feito uma cirurgia dias antes. Ele diz que no começo ficou chateado pelo fato, mas não desanimou.

“A gente se sente impotente, mas temos que superar esses traumas”. Após o roubo, o motorista diz que agora anda com mais cautela e prudência.