Vítima de acidente de trânsito, Almeida fraturou coluna e há 18 anos não consegue andar. Deprimido, decidiu sair às ruas de Brasília vestido de palhaço para espalhar sorrisos .

Por Marília Marques, G1 DF

Adenilton Almeida se transforma no palhaço Filho da Fé para conquistar sorrisos pelas ruas de Brasília (Foto: Marília Marques/G1)


O colorido das roupas de um palhaço chama a atenção de quem espera pelo transporte público em uma das paradas de ônibus da W3 Sul. Na pintura do rosto, a inscrição “Filho da Fé”, codinome de Adenilton Almeida, um palhaço de cadeira de rodas que há três anos percorre as ruas de Brasília na tentativa de despertar o sorriso nas pessoas.

Atrelado ao figurino artístico há uma sacola de remédios para dor muscular e uma caixa de som que o brasiliense usa para contar sua história de vida. Emocionado, ele explica que o motivo de não poder andar foi um acidente de trânsito ocorrido há 18 anos, em Luziânia (GO), que gerou lesões na coluna e comprometeu a mobilidade.

“Fraturei a coluna em três lugares e desde então minha vida desabou.”

Ao G1 Almeida conta que antes do acidente trabalhava como vendedor e hoje se sente feliz em ser “o primeiro palhaço em cadeiras de roda de Brasília”. Cada sorriso conquistado é celebrado com entusiasmo. O motivo, o palhaço explica que são os benefícios medicinais que o riso causa.

“Eu sempre gostei de ser palhaço. No meu caso não é uma diversão, é uma precisão. Faço um personagem que traz alegria e tira minha tristeza. Depois que comecei a andar na rua nunca mais fiquei tão doente.”

O artista é cuidadoso com a maquiagem e acessórios que dão vida ao “Filho da Fé”. Ele percorre diariamente quase 60 quilômetros para chegar ao Plano Piloto e interagir com o público nas ruas.

“Antes eu ficava em minha casa deitado só pensando em bobagens. Agora me sinto bem no que estou fazendo, só não venho todos os dias porque ficar muito tempo sentado dá escaras em mim.”

A caixa de som do palhaço faz parte do figurino; ele usa para contar sua história de vida. (Foto: Marília Marques/G1)

Um outro lado

Sobre a escolha do personagem, Almeida diz que também é uma forma de protesto. O palhaço diz receber um auxílio de um pouco mais de um salário mínimo da Previdência Social, por invalidez, mas reclama da ausência de suporte fornecido pela rede pública de Saúde do país.

“Um cadeirante de família carente é um palhaço, ele não consegue nada. Com muito custo consigo comprar meus medicamentos.”

Apesar das dificuldades financeiras, o palhaço Almeida garante que conseguir dinheiro nas ruas não é a prioridade. “Não é exatamente isso que eu quero, só queria ter todos os meus remédios, inclusive fraldas.”

Em meio às lutas diárias, as dores de Adenilton Almeida se camuflam no sorriso do palhaço Filho da Fé. O lado alegre nem sempre consegue ser mostrado, mas o artista garante que leva o trabalho à sério e todos os dias se esforça para fazer alguém sorrir.

Sobre os momentos difíceis, em que a dor na perna fica mais intensa, ele diz lembrar de quando há alguns dias, um homem passou e ofereceu R$ 2 em troca de um pedido inusitado.

“Ele disse que só daria o dinheiro se eu sorrisse. Na hora eu ri, mas só Jesus sabia a dor que eu estava sentindo.”

Enquanto finalizava a conversa com a reportagem, os olhares curiosos de quem passava pela parada de ônibus da W3 Sul e via um palhaço na cadeira de rodas eram retribuídos com sorrisos. Dessa vez, o motivo foi a expressão de um sonho, que o palhaço Filho da Fé fez questão de contar para todos.

“Meu sonho é participar por um dia do programa 'Zorra'. Garanto que consigo fazer o Brasil inteiro sorrir.”