Tarsila ao lado do pai Marcos Romeu, criador do blog 'Papai no Controle'. Foto: Arquivo Pessoal

No Dia dos Pais, debates acerca das responsabilidades da paternidade costumam movimentar as redes sociais. De um lado, há quem acredite que eles devem apenas exercer o papel de provedor da família. Do outro, existem aqueles que defendem que esse compromisso vai além, sendo necessário que seja estabelecida uma conexão maior com o filho. As discussões põem em xeque os costumes da nossa sociedade e propõem mudanças para que uma nova imagem de pai possa surgir.

Um exemplo dos que seguem a segunda vertente é o estudante Marcos Romeu, de 35 anos, que é pai da Tarsila, de 3 anos, e procura sempre ser ativo na criação da filha. Ele precisou ficar com a filha quando a esposa, Jamile Romeu, teve de retornar ao trabalho depois que a licença-maternidade acabou.

Marcos tinha dois empregos e saiu de um para poder ficar com meio período disponível para cuidar da filha. Para acalmar a mulher, que estava longe, passou a enviar vídeos e fotos da pequena. “Aí ela começou a passar essas imagens para a família e caiu na internet. A galera começou a pedir mais e também a me mandar perguntas sobre a criação, foi quando a gente tomou a iniciativa de criar o blog ‘Papai no Controle’”, conta o homem.

O blog já tem 10 mil curtidas no Instagram e, lá, Marcos compartilha o dia a dia com a filha. Além da diversão, o estudante procurou aprender cada vez mais sobre a paternagem. “Depois que a Tarsila chegou na minha vida, eu fiquei focado na criação dela e em como melhorar como pessoa para passar isso pra ela. Passei a buscar mais informações de cuidados, sempre buscando inovar naquilo que a gente tinha como criação de filho no passado”, aponta.

Marcos, que agora espera a chegada do segundo filho, alega que a confiança entre a filha Tarsila é o que mais se destaca. “A minha filha é uma criança muito segura de si. Quando o pai é participativo, ele tem um filho com menos conflitos psicológicos”, diz o estudante.

O processo para se tornar um pai mais ativo foi um pouco diferente para o bancário Eduardo Benon, 30, que é pai de três: Marina, 8; Théo, 4; e Estela, 2. No caso dele, não foi preciso que ninguém deixasse o trabalho, apenas ajustes na rotina. “Quando eu e a Débora (esposa) descobrimos a gravidez da Marina, que é a mais velha, a gente não dividiu obrigações. A gente resolveu que faríamos juntos, de forma espontânea”, lembra.

Eduardo também encontrou nas redes sociais uma ferramenta para propagar o conceito de pai ativo, e também mostrar que é possível se divertir com os três filhos. “No Instagram (@3abordobr), a gente compartilha relatos principalmente de viagens com as crianças, mostrando que é possível viajar e sair com os três filhos”, afirma.

Ao tentarem ser diferentes, tanto Marcos quanto Eduardo contam que já passaram por situações constrangedoras. O bancário lembra que, em uma viagem, olharam torto para ele ao entrar no banheiro masculino com a filha. “Às vezes não estamos com uma mulher no momento para ajudar. Quando fui com ela acharam que era outra coisa”, diz Eduardo.

Marcos, inclusive, já teria sofrido com comentários maldosos. “Apesar de muita gente me conhecer como ‘Papai no Controle’, quando eu saio com a Tarsila sozinho as pessoas perguntam: ‘Nossa, como você sai com a sua filha sozinho? Cadê a mãe?’”, critica.

Mesmo assim eles não se intimidam em continuar exercendo seus papéis de maneira ativa e ainda reconhecem que a decisão é transformadora para todos. “Eu me redescobri como pessoa, não só na função de pai”, resume o bancário Eduardo Benon. “O importante é mostrar que a paternidade é algo maravilhoso, porque quando você se dedica em cuidar do seu filho, saiba que é um trabalho que vai ter resultado a longo prazo”, conclui Marcos Romeu.

Conceito vem sofrendo mudanças

A visão de paternidade tem mudado nos últimos anos, segundo a psicóloga Lia Clerot. Para a especialista, é necessário que a sociedade desconstrua a visão de que o pai é apenas o provedor em casa e que a mãe é a responsável pelas atividades domésticas. “Porém, é bom ressaltar que ele não deve ‘ajudar’ e sim ‘realizar’. O pai não é um mero auxiliar, deve sair da posição de coadjuvante e ser um protagonista no dia a dia da criança, ao lado da mãe”, aponta a psicóloga.

Tornar-se pai contribui muito para transformações significativas na vida do homem, sem contar que o número de conexões cerebrais aumentam consideravelmente. “E quanto maior o tempo dedicado a estar com os pequenos, melhor são esses níveis. Além disso, assumir verdadeiramente a paternidade gera uma mudança de postura e comprometimento”, conta Lia.

Ainda de acordo com a psicóloga, a presença paterna traz também benefícios para as crianças. “No caso dos meninos, o pai se torna um referencial de identificação, enquanto, para elas, um ponto seguro para a autoestima. É o compartilhamento de emoções, situações, experiências, ponderações, enfim, é alguém que deve se envolver no processo educativo”, explica.

Como toda mudança cultural é gradual, muitos pais que praticam a paternidade ativa se deparam com brincadeiras e comentários maldosos. Para a psicóloga há dois extremos que devem ser evitados: tratar com chacota a participação do pai, mas também não supervalorizar os atos paternos.

“Ações como dar banho, trocar fraldas, pentear os cabelos, dar comida, enfim, o cuidado que antes integrava exclusivamente a rotina doméstica da mãe, não devem ser referidas como coisas de ‘mulherzinha’. Além disso, existem pais que recebem elogios por, de repente, postar nas redes sociais realizando uma destas atividades. Muitas vezes foi uma atitude isolada, enquanto a mãe carrega todas as outras responsabilidades. Precisamos encarar com naturalidade o exercício da paternidade”, conclui.
JBR