A decisão do governo de Brasília de suspender o pagamento da última parcela do reajuste dos servidores públicos teve como objetivo primordial preservar o pagamento em dia dos salários. Mas a medida também evitou que o Executivo ficasse impossibilitado de recorrer a financiamentos de bancos nacionais e internacionais, importante ferramenta usada frente à escassez de recursos.Moradores de 612 lotes no Sol Nascente, em Ceilândia, já podem acessar a rede de esgoto.
Pelas projeções da equipe econômica, caso os aumentos fossem creditados, o Distrito Federal ultrapassaria o limite (49%) da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) em 2017, chegando a comprometer 49,37% da receita corrente líquida com salários.
O governo, assim, ficaria impedido de contratar operações de crédito, se não retornasse, pelo menos, ao limite prudencial da LRF (46,55%) nos dois quadrimestres seguintes.
Ficar com restrições para fazer parcerias com bancos públicos e privados colocaria o DF em situação muito delicada, na avaliação do governo. Com 77% da receita — incluindo o Fundo Constitucional — comprometidos com folha de pagamento e 20% com o custeio da máquina, sobram pouco mais de 2% de recursos do Tesouro para investimentos na cidade.
77%Volume da receita do DF (incluindo o Fundo Constitucional) comprometido hoje com folha de pagamento
De acordo com levantamento da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, desde janeiro de 2015 o governo de Brasília recorreu a empréstimos que financiaram 24 projetos, a maior parte deles em andamento.
A urbanização do Sol Nascente — que tem levado asfalto, drenagem e rede de esgoto a mais de 100 mil pessoas de uma das regiões mais carentes do DF — conta com aporte de R$ 188 milhões, sendo 95% daCaixa Econômica Federal e 5% de contrapartida do governo do DF.
Parceria com Banco do Brasil reforça infraestrutura
Obras para minimizar efeitos da crise hídrica
Até problemas decorrentes da crise hídrica que assola Brasília têm sido enfrentados com o auxílio de empréstimos. As obras de captação e tratamento de água do Sistema Produtor Corumbá 4, por exemplo, são tocadas com recursos de instituições financeiras nacionais.O Sistema Produtor Corumbá 4 está com 47% das obras concluídas. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasilia – 5.10.2016
Com 47% das obras prontas, o reservatório levará água para 1,3 milhão de moradores do DF e de Goiás e é construído com financiamentos da Caixa Econômica Federale do Banco do Brasil, no montante de R$ 275 milhões.
Além disso, o governo de Brasília captou dinheiro com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras viárias na saída norte, no valor de R$ 146 milhões. Entre elas está a construção do Trevo de Triagem Norte, que prevê a execução de um complexo viário composto por três grandes interseções.
Trata-se de um complexo viário que ligará o balão do Torto ao do Colorado, por meio da construção de pista marginal à DF-003, além de novos acessos aos condomínios situados na região. A obra reduzirá os constantes engarrafamentos existentes na via.
"A concessão dos reajustes neste momento impediria a ampliação (e até mesmo a manutenção) de serviços ofertados à sociedade"Renato Brown, secretário adjunto de Planejamento, Orçamento e Gestão
No entendimento do secretário adjunto de Planejamento, Orçamento e Gestão, Renato Brown, o congelamento das operações de crédito inviabilizaria dezenas de projetos relevantes para elevar a qualidade de vida da população. “Além de sermos obrigados a parcelar os salários, a concessão dos reajustes neste momento impediria a ampliação — e até mesmo a manutenção — de serviços ofertados à sociedade”, frisou.
Outras implicações para quem ultrapassa a LRF
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000) impõe uma série de outras restrições para municípios, unidades da Federação e a União quando os gastos com pessoal são extrapolados.
Quando se ultrapassa a faixa considerada prudencial (46,55%), como é o caso de Brasília, o governo fica impedido de contratar servidores — a não ser em casos de reposição por força de aposentadoria ou morte nas áreas de saúde, educação e segurança pública —, de conceder reajuste salarial, de pagar horas extras e de alterar a estrutura de carreiras com aumento de despesas.
Agência Brasília
Foto: Tony Winston/Agência Brasília
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