Medida publicada no Diário Oficial do DF tem validade imediata. Para maestro Claudio Cohen, ideal seria gestão por organização da sociedade civil.

Por Luiza Garonce, G1 DF

GDF/ Divulgação

No mês em que completa 40 anos, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro ganhou dois conselhos para elaborar, propor e aprovar projetos. Um deles tem como principal finalidade encontrar um modelo de gestão sustentável.

O ideal, para o maestro Claudio Cohen, seria que uma Organização da Sociedade Civil (OSC) pudesse administrar as temporadas da orquestra – como ocorre no Espaço Cultural Renato Russo, por exemplo.

"Assim, eu teria mais tempo de planejamento e saberia da verba disponível."

Para o maestro, com a gestão de uma OSC também seria possível captar recursos fora do governo e criar projetos por meio de leis de incentivo à cultura.

"Nunca tivemos qualquer projeto aprovado via Lei Rouanet, como ocorre com outras sinfônicas do país", afirma Cohen.

Orquestra Sinfônica faz concerto para alunos da rede pública do DF — Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Como funcionam os conselhos?

A criação dos conselhos foi publicada pela Secretaria de Cultura no Diário Oficial do DF na última quarta-feira (13) e tem validade imediata.

A portaria anula uma outra, sancionada em outubro do ano passado, que havia criado apenas um conselho consultivo – agora, a orquestra vai ter dois comitês: um curatorial e outro gestor.

"Já existia uma demanda dos próprios músicos para que fosse criado um conselho deliberativo e não apenas consultivo", explicou o secretário em exercício, Cristiano Vasconcelos.

Conselho Curatorial

Semelhante ao que já existia, visa contribuir com as ações de valorização dos músicos e da memória – a ideia é que o modelo seja aplicado em outros equipamentos culturais, como museus
Também caberá ao Conselho Curatorial disseminar a cultura da música sinfônica e camerística e monitorar as programações
Ao final de cada ano, o grupo deve encaminhar à Secretaria de Cultura um relatório com as atividades desenvolvidas

Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional faz ensaio no Cine Brasília — Foto: Andre Borges/Agência Brasília


Conselho Gestor

Será responsável por pesquisar e escolher um novo modelo de gestão que garanta a sustentabilidade da orquestra
O grupo deve planejar, propor, acompanhar e aprovar as atividades da sinfônica
Também caberá aos conselho cuidar da regulamentação e auxiliar na avaliação de políticas e de planos estratégicos voltados para a valorização da orquestra

Integrantes da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro — Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Quem vai compor os conselhos?

Os membros dos conselhos não vão receber salário ou qualquer tipo de remuneração extra pelo desempenho das atividades. Segundo o GDF, as funções são consideradas "serviço público relevante" e, por isso, não requerem bonificações. O mandato é de dois anos.

O Conselho Curatorial será presidido pelo Secretário de Cultura, Adão Cândido, e composto por cinco membros escolhidos por ele:
dois da sociedade civil com notório conhecimento em música clássica e de concerto;
um da Escola de Música de Brasília;
um da Universidade de Brasília;
e um da Orquestra Sinfônica.

Já o Conselho Gestor será composto por quatro membros:

o maestro da orquestra, Claudio Cohen;
um membro Coordenação Administrativa da Orquestra, representando a Secretaria de Cultura;
um membro do Conselho Curatorial;
e um representante de organização da sociedade civil que atue como parceria na gestão da orquestra, escolhida por chamamento público como ocorre no Espaço Cultural Renato Russo.

Orquestra Sinfônica Cláudio Santoro durante apresentação no Cine Brasília — Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Gestão sustentável

A Secretaria de Cultura disse ao G1 que a principal intenção da medida é chegar a um modelo de gestão capaz de garantir a preservação e o crescimento da orquestra enquanto manifestação artística e equipamento cultural.

Segundo o secretário em exercício, Cristiano Vasconcelos, a maior referência é a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que é gerida por uma Organização da Sociedade Civil (OSC) e interpretada pelo governo do DF como "um case de sucesso".

"Não necessariamente vamos repetir isso, mas o conselho vai existir para encontrar o melhor modelo", disse Vasconcelos ao G1.

"Gestão por OSC é um caminho que está no radar."

Músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional — Foto: Andre Borges/Agência Brasília

A Orquestra do Teatro Nacional Claudio Santoro é considerada patrimônio cultural imaterial do DF. Segundo o GDF, isso significa que — além de protegida e valorizada — a sinfônica é obrigada a cumprir uma série de requisitos para manter o padrão de qualidade.

O modelo seguido é o da Unesco, embora o título não tenha sido concedido pela organização. Para o maestro Claudio Cohen, o título de patrimônio imaterial tem valor simbólico maior que prático.

"Uma vez que você é chancelado como patrimônio, isso te protege contra ataques, porque a cultura é a primeira que leva cortes quando precisa", diz ele.

"É mais uma proteção, porque a gente sabe que orquestras de outros estados foram extintas."