Foco principal da Casa Santo André, no Gama, são moradores de rua. Mas a ação ainda depende de voluntários.

Casa Santro André. Foto: Kléber Lima

A Associação Casa Santo André inaugurou um consultório odontológico no Gama para atender moradores de rua e outras pessoas carentes. A instituição de acolhimento abriga 220 pessoas em cinco casas no Distrito Federal. E, além deste público, pretende atender aos quatro mil que vivem nas ruas da capital. Mas, para isso, depende da doação de materiais e de mão de obra.

Os organizadores e voluntários da Casa Santo André resolveram empreender na área odontológica quando perceberam que mais de 90% das pessoas em situação carente têm problemas bucais. “Então, pensamos em tentar abrir um consultório e há dois anos começamos a ir atrás. Conseguimos a doação da cadeira para o atendimento e fomos montando”, explica o coordenador da associação, Cleven Rodrigues.

A casa precisa de outros materiais, além da ajuda de dentistas voluntários. A ideia é firmar parcerias com clínicas de exames de raios X e buscar a doação de materiais descartáveis. “Precisamos divulgar o serviço para que as pessoas de rua saibam que podem buscar socorro, e queremos que a sociedade nos ajude”, afirma Rodrigues.

O dentista Marcus Pinheiro é voluntário nesse tipo de projeto desde que se formou. Ele explica que a necessidade de tratamento para pessoas de rua vai além da estética. “Eles não têm mais o cuidado, a higiene, e nosso trabalho é todo pensado na integração social, na ressocialização dessas pessoas”, cita. Para ele, essa ação vai ajudar na autoestima de muitos.

O profissional ressalta que quem mora na rua precisa de carinho e cuidado, e a sociedade pode ajudar. “Precisamos da colaboração das pessoas para conseguir fundos e mais voluntários”, pede. Para ele, o trabalho voluntário só tem a contribuir para quem estende a mão. “Mesmo sem querer, a gente se envolve, melhora e se torna mais solidário com os outros”, frisa.

Trabalho social

O coordenador Cleven Rodrigues explica que, das quatro unidades da Casa Santo André, quatro recebem homens que estão em situação de rua e uma acolhe crianças e mulheres. Três delas estão localizadas no Gama, e as outras duas ficam em Sobradinho. Carlos Augusto Damacena Lopes, 54 anos, foi para a Casa Santo André depois de ter se acidentado quando era pedreiro. “Eu me feri e não consegui me recuperar”, relembra.

Ele estava em São Paulo e, com o pouco dinheiro que lhe sobrou, chegou até a Rodoviária Interestadual de Brasília. De lá, foi mandado para a associação, onde atualmente ajuda na limpeza e organização. Carlos conta que não sabe se os pais ainda são vivos, porque passou muito tempo sem condições e longe de casa. “Mas agora eu estou me reerguendo, já consegui minha papelada para a aposentadoria e está tudo bem”, conta. “Se não fosse a Santo André, eu estaria na rua sem endereço e sem preço”, conclui.

Serviço

Para doações e quem quiser ser voluntário, os números são: 61 3385-2615 e 61 9 96700282 (WhatsApp). O consultório fica no Setor Sul, Quadra 7, Gama.

Ajuda para quem precisa

A entidade é mantida com doações e funciona aos moldes de uma casa de passagem: o assistido pode residir por três meses, mas cabe às equipes de acolhimento decidir quanto tempo as pessoas ainda podem ficar por lá. Tudo depende da condição de cada um, que varia desde o desemprego à violência doméstica, por exemplo.

São oferecidos serviços como assessoria jurídica, cursos, alfabetização e atendimento psicossocial. “A casa tira pessoas de rua e as acolhe, e muitas delas conseguem alugar uma residência e ou serem reinseridas na família”, explica o coordenador Cleven Rodrigues. A maior dificuldade para manter a estrutura é a falta de doação. “As pessoas doam sempre para casa de idosos, de crianças carentes, mas não para quem está em situação de rua”, compara.

As doações de vestimenta e material são poucas. “O pessoal tem a visão de que todo morador de rua é vagabundo”, lamenta Cleven. Ele alerta, porém, que quem está na rua muitas vezes não tem saída. Ainda assim, para o coordenador, não adianta reclamar que a rua está cheia de bêbados e mendigos e não fazer nada para ajudar. “Quando a pessoa está na rua por um vício, não é o preconceito que ajuda, mas uma internação ou algo parecido. A gente reclama muito, mas não faz nada para mudar”, afirma.

Ele conta que muitas vezes as pessoas não querem sair da rua, e as equipes de abordagem também não podem forçá-las. Para Cleven, antes era difícil entender por que as pessoas não queriam sair da rua e ter uma casa, mas hoje ele já as compreende melhor. “Uma vez, fomos abordar um homem na rua, falamos que ele podia morar numa casa, construir família, ter emprego, e o morador de rua falou: ‘Eu tinha tudo isso, carro, casa, esposa, filhos. Trabalhava das 5h às 23h para dar o melhor para eles. Até que fui traído. Não quero mais nada disso’. Cada um carrega uma história e não podemos julgar”, conclui Cleven.
JBR